Um verdadeiro diamante da música eletrônica mundial aporta novamente em Búzios para uma das noites mais esperadas do verão 2017. Mas antes, ele tirou um tempo para conversar com a equipe da Privilège Mag. O resultado deste papo você confere aqui ou nas páginas da revista que já está...
Por Raphael Paradella
Leia essa entrevista ouvindo:
Nascido no Teerão, no Irã, em 1970, Sharam Tayebi se tornou uma das grandes referências da e-music mundial, já acumulando mais de vinte anos de carreira musical. Aos quatorze anos de idade se mudou para os Estados Unidos. Mas foi no início da década de 90 que tudo começou. Pela noite de Washington D.C. conheceu o conterrâneo Ali ‘Dubfire’ Shirazinia e os gostos musicais parecidos culminaram na criação do aclamado projeto Deep Dish, em 1992.
Lançamentos se tornaram verdadeiros ícones da música mundial e uma coleção impressionante de remixes, incluindo para Madonna e Fleetwood Mac, por exemplo, fizeram o sucesso da dupla que até hoje é referenciada. Em 2002, levaram o Grammy de ‘Best Remixed Recording’ com um remix da música ‘Thank You’, de Dido, além de outras indicações em importantes premiações. Em 2006, a dupla passou a ter focos distintos em carreiras solo.
Sharam, aficionado pelo novo, é um defensor incondicional da qualidade musical. Para ele, a música é para todos e o cruzamento de estilos é o caminho para que o movimento eletrônico siga em frente. Seus anos de estrada trouxeram grandes colaborações ao lado de Chris Martin [Coldplay], Kid Cudi, Shakira, P. Diddy e muitos outros. Além disso, carrega o selo Yoshitoshi.
Em fevereiro de 2008, a ele entrou pela primeira vez no Privilège Búzios - ainda como Deep Dish - e fez uma noite inesquecível para quem viveu aqueles momentos. Em 2016, Sharam retornou à cabine e, mais uma vez, fez a pista ir ao delírio, tocando até de manhã. Confirmadíssmo também no verão, este diamante da música eletrônica encontrou com a equipe da Privilège MAG para um bom papo. Confira:
PRIVILÈGE MAG: Como a música eletrônica chegou na sua vida e quais foram suas principais referências na época?
SHARAM: Eu sempre tive música comigo deste novo. Quando saí do Irã e me mudei para os EUA eu me ligava em pop e rock, pois era o que podia ter em mãos. Bandas como Wham, Boney M, Queen, Abba, Kiss e AC/DC, no caso. Depois, eu me deparei com uma loja de discos que tinha muito de dance music e eu fiquei viciado. Inicialmente, ouvia mais as coisas do Italo-Disco, mas depois descobri gravações de House, como ‘Can’t You Feel It’,de Royal House (Todd Terry), e o Photon Inc do DJ Pierre. Depois, gravações de Techno que vinham de Detroit e no estilo belga, como Frank de Wulf. O resto, como muitos dizem, é história.
É impossível não falarmos sobre o Deep Dish: Como nasceu essa Parceria com o Dubfire? No início qual era o propósito de vocês com o projeto e como vê o legado que deixaram?
Éramos dois DJs e cada um fazia o seu trabalho na cena local de DC [Washington D.C.]. Eu estava tocando em algumas festas e em uma delas um dos meus amigos recomendou que eu visse o Ali se apresentar. Nos tornamos amigos e percebemos que tínhamos um interesse mútuo pelo caminho a se percorrer como DJ e pela forma como se faz em música. O objetivo sempre foi de se fazer uma música única e derrubar os limites. Acho fomos capazes de fazer e conseguir muitas coisas juntos.
Quais são os elementos ou instrumentos sempre podemos encontrar em suas produções?
As percussões são meus principais instrumentos. Gosto de fazer batidas únicas e diferentes. Depois, vem a linha dos baixos. Eu gosto dela despretensiosa, com bases únicas. E eu sempre gosto de construir uma linha memorável na minha música, seja na parte vocal ou instrumental. Se não tiver essa pegada, a música se torna chata para mim.
Entre as muitas dicotomias presentes na música eletrônica, o diálogo entre o analógico e digital costuma gerar muitos debates. Neste contexto, vemos ‘big names’ retornando ao analógico, outros seguindo pelo digital e alguns até misturando. Qual a sua posição sobre este assunto e qual destes universos você prefere?
Isso não importa quando você segue criando sua própria arte. Se você consegue fazer no digital, ótimo. Se você prefere o analógico, que bom também. Não dou muita atenção a essas coisas. Os dois campos têm suas vantagens. Mas chegamos a um ponto em que este debate se torna apenas uma forma de DJs/produtores parecerem ‘cool’ ou melhores que os outros. Para mim, não importa qual formato, instrumento, software ou plugin se usa. Importa é o que se faz com isso. Tenho gravações feitas no digital que são dez vezes melhores que algumas analógicas que fiz. Assim como também tenho gravações analógicas que são simplesmente belos trabalhos de arte. É realmente uma escolha do produtor aquilo que é preferível ou melhor de utilizar.
Outro debate que ainda fica é entre o mainstream e o underground. É possível definir estes dois lados hoje em dia?
Maisntream faz uma coisa e o underground também faz. Normalmente, o underground define o som do mainstream por algumas encarnações. Tudo sempre começa no underground, a partir disso, quando funciona, todo mundo começa a copiar e aí você passa a ter as variações de mainstream.
Eu gosto de gravações com vocal. As vezes elas vão para o mainstream, mas isso não é uma coisa ruim. Uma boa gravação precisa ser popular. Apenas não gosto quando todo mundo que copia esse grande lançamento e tenta ganhar dinheiro em cima desta tendência.
O underground também costuma a se levar muito a sério. Isso é música. As pessoas devem se divertir e não tratá-la apenas como um ponto de vista político que a define.
Vemos um grande crescimento do streaming. Que mudanças isso traz para a cena?
Essa é só uma forma nova e diferente para as pessoas terem acesso à música. Pessoas não compram mais música das formas tradicionais. Então, isso traz novas possibilidades para os artistas se mostrem.
Como você vê o futuro da música eletrônica?
Música é como moda. Continua voltando ao passado e se reinventandoem outro caminho. Então, nos vamos ver diferentes estilos entrando em voga e depois caindo fora quando a próxima novidade surgir. Vai haver sempre alguma coisa única e nova que ajude a propagar certa tendência para o futuro.
‘Retroactive’ é seu ultimo lançamento e faz exatamente este retorno ao começo da sua carreira. Qual seu sentimento vendo este encontro do mercado atual e as décadas de 80 e 90?
Este foi um caminho para eu me reconectar às minhas antigas influências e usá-las como inspiração para fazer música nova. Busco contar a história que me influenciou, trazer de volta ideias e combinar isso tudo dentro do meu estilo de fazer música agora.
O que está por vir em 2017? Quais os novos projetos?
Um novo projeto de mini álbum. Ainda estou trabalhando nos detalhes. Também estou fazendo alguns remixes, o que não estava fazendo muito.
Você veio ao Privilège pela primeira vez em 2008, com o Deep Dish, retornou oito anos depois em uma noite memorável. Agora, também está confirmado no verão do balneário. Como você se sente tocando aqui?
Foi fantástico estar de volta depois de oito anos. O club continua incrível e o público é simplesmente fenomenal. Eu estava tocando um long set e só terminei porque precisava pegar o vôo. Espero que nesta próxima vez eu consiga tocar ainda por mais tempo. Já estou ansioso para voltar neste verão!
Aproveitando o gancho, qual seria a trilha perfeita para o verão brasileiro na sua opinião?
‘Gypsi’ do meu novo álbum. Ela tem esse sentimento de verão.
Com tantos anos de carreira, que conselhos dá para os novos talentos?
Seja diferente, pense diferente e não aceite o não como resposta.