Novidades - Paulo Gustavo na Privilège MAG - Privilège Brasil

Seu jeito irreverente que espalhou alegria por onde ia chegou também nas páginas da edição #52 da Privilège MAG. Resgatamos a entrevista completa como homenagem do Mundo Privilège.

PAULO GUSTAVO É UMA PEÇA!

 

O ator e comediante chegou para plugar a Privilège Mag no 220 volts.

 

 

 

 

 

 

Nenhum lugar seria melhor para o nascimento de Paulo Gustavo que a ‘cidade sorriso’. Não foi ironia. Foi o destino já mostrando que aquele menino de outubro de 1978, de Niterói, faria milhares de pessoas sorrirem e sua mãe, Dona Déa Lúcia, seria a própria inspiração para isso.

 

 

O sonho de estar nos palcos veio cedo. Ensaiava alguns textos sozinho em casa. Depois, morou dois meses nos EUA e quando voltou ao Brasil, ingressou na faculdade de Turismo. Mas ele parecia ‘hiperativo’ demais para isso. Em 2004 estreou nos palcos cariocas em ‘O Surto’, já fazendo comédia e tendo nas mãos a interpretação de Dona Hermínia. No ano seguinte, formou-se na Casa de Artes de Laranjeiras [CAL] e montou, ao lado de Fábio Porchat, a peça ‘Infraturas’, sob a direção de Malu Valle, que ficou um ano em cartaz.

 

 

Foi aí, neste fatídico ano de 2006, que ‘Minha Mãe É Uma Peça’ chegou com tudo. No início, uma pequena montagem feita a partir de R$ 3.000,00 arrecadados por ‘vaquinha’ da família. O Teatro Cândido Mendes foi o local escolhido para a estreia da peça que escreveu e montou sozinho, com cenário de Nelo Marrese e direção de João Fonseca. O espetáculo logo virou burburinho entre os cariocas e ganhou corpo. E que corpo... não é, Marcelina?! Com a montagem, Paulo foi indicado ao prêmio Shell na categoria ‘Melhor ator’; foi visto por mais de três milhões de pessoas; transformou a peça em filme, em 2013, com mais de quatro milhões de espectadores; fez a história virar livro em 2015; e chega ao décimo ano cheio de disposição para a sequência do longa metragem, que estreou em dezembro de 2016. Mas acha que a carreira de Paulo se resume a isso? ‘Repica, Renê!’ por que o cara é ligado nos ‘220volts’. Em 2007, entrou para o elenco do ‘Sítio do Pica-Pau Amarelo’, interpretando o delegado Lupicínio. Dois anos depois, contracenou com Lilia Cabral no aclamado ‘Divã’ - que com o passar do tempo se tornou um a série da TV Globo – e ao lado de Xuxa em ‘O mistério de feiurinha’. Em 2010, veio o ‘Hiperativo’ em formato stand-up comedy, que acumulou a marca de 2 milhões de pessoas na plateia.

 

 

O Multishow descobriu este talento em 2011, quando estreou o ‘220 volts’, com uma sequência de esquetes e personagens cotidianos que trabalhavam em cima de um tema em conversa com o público. Daí veio a ‘odiamável’ Senhora dos Absurdos, a Mulher Feia, Maria Efizema, o Playboy, a famosa, a adorável Ivonete e uma imensidão de personagens incríveis, que foram para o teatro em 2014 com uma montagem 'a la Broadway'. Em 2013, estreia o ‘Vai que cola’, em um divertido formato que mistura teatro e série de TV, que também se tornou filme de sucesso em 2015. No ano seguinte, chega o programa ‘Paulo Gustavo na estrada’, paralelo às gravações do DVD ‘Hiperativo’ e no lançamento do filme ‘Os homens são de Marte… e é pra lá que eu vou’, ao lado de Mônica Martelli. Ufa... haja fôlego.

 

 

Acabou? Que nada! Muitos projetos estão em pauta e ele conta tudo em um papo gostoso e leve com a equipe da redação.

 

 

 

 

 

PRIVILÈGE MAG: Quantas vezes você já respondeu sobre o limite entre o humor e o escracho? O que acha dessa recorrência da questão? [risos]

 

 

PAULO GUSTAVO: Pois é, este assunto é realmente recorrente. Várias vezes já me perguntaram sobre isso e acho que o limite é o bom senso. A gente tem que encontrar esse limite. Nos meus espetáculos e textos eu sempre trabalho cada frase e palavra. Eu e o Fil Braz - que é o parceiro que me ajuda a escrever os textos - sentamos aqui em casa no chão com os computadores, colocamos uns amendoins e refrigerante no centro [risos] e batemos frase por frase ponderando as reações. ‘Será que a gente fala isso?’, ‘será que não vai parecer aquilo?’ ou ‘se falar isso, a pessoa pode pensar e interpretar aquilo?’ . A gente tenta pensar no que o outro pensaria e se coloca mesmo no lugar desta pessoa. É aí que a gente encontra o equilíbrio. É algo que você precisa estar muito disposto a fazer, com vontade de que a coisa dê certo e não te interpretem mal. Mas isso vai de cada um. Eu falo por mim, a gente tenta sempre equilibrar para que a pessoa fique feliz e não se sinta agredida achando que é outra coisa. Sempre que se vai para o escracho, você corre esse risco. Dá para fazer uma coisa mais popular e exagerada sendo, ao mesmo tempo, educado e gentil. Agora, é trabalho. Tem que arregaçar as mangas e fazer. Não dá para escrever qualquer coisa e entregar. O público não merece isso.

 

 

 

 

‘Minha Mãe é uma Peça’ completa 10 anos e foi do teatro para o cinema e livros. Como você avalia o desenvolvimento desta década de história? E como é continuar se inspirando nas cenas do seu cotidiano para fazer as pessoas sorrirem?

 

 

Nossa, eu estou muito feliz com estes dez anos do ‘Minha Mãe é uma Peça’. Eu nunca imaginei que fosse ser esse sucesso todo do teatro, do cinema e da personagem. Ela é uma pessoa que conversa diretamente com as mães, os filhos e a família em geral. Acho que é por isso que o espetáculo faz sucesso há tantos anos. Enquanto existirem as mães – o que não vai deixar de existir nunca, né? [risos] - isso vai fazer sucesso.

 

 

Quando a gente fica tantos anos em cartaz, formamos uma galera que sabe que o espetáculo existe mas nunca assistiu. Aquele que tinha dez anos, hoje tem vinte. Quando essa pessoa tinha 15, a peça estreou. Agora com 25, ele leva a namorada para o espetáculo pois ele já conhece, mesmo sem ter assistido ainda. Dependendo de como você leva isso para a sua carreira, juntando outros trabalhos, consegue um público acumulado. Afinal, a carreira é um conjunto de coisas. Por exemplo: o sucesso do ‘Vai que cola’ eu devo ao que eu fiz no teatro e no cinema antes. O que fiz no cinema ou no teatro, também teve contribuição do programa. Uma coisa ajuda a outra. Com dez anos em cartaz, você tem o resultado de uma carreira inteira. Por todos esses motivos, o espetáculo faz sucesso há tanto tempo.

 

 

Além disso, eu adoro fazer comédia, nasci para isso e tenho orgulho por ser comediante. É aquela coisa clichê de ‘quando você ama o que faz, dá sempre certo’. Isso não é totalmente verdade, pois tenho amigos que acham um saco o que fazem, mas têm sucesso naquilo. Eu falo isso, mas estou pensando aqui que na minha também tem hora que é cansativo, ficando, muitas vezes, até de madrugada gravando. Enfim, o que estou tentando dizer é que eu sou meio dono do que faço, tenho a possibilidade de escolher e para nem todo mundo é assim. Na minha profissão, eu consegui encontrar um lugar em que controlo o que acontece em volta de mim e isso me faz ficar ainda mais feliz. Eu amo ser comediante e todos os projetos que faço, o que contribui muito também para esse sucesso dos trabalhos.

 

 

 

 

 

Quais são os planos para 2017?

 

 

Como lançamos o novo filme do ‘Minha Mãe é uma Peça’ no finalzinho de 2016, quase no ano novo, podemos considerar que já é um projeto para 2017, pois o filme acontece mesmo em janeiro. Tem o meu programa novo, que vai estrear no Multishow, chamado ‘A Vila’. Nele, eu faço um palhaço depois que o circo acabou e tem que arrumar um emprego. Começo a fazer uns bicos e estaciono meu trailer em uma vila, onde contraceno com os moradores deste lugar. Ainda estamos em fase de elaborar e construir este programa, mas está ficando muito legal e já estou mega satisfeito.

 

 

Também tem a minha peça ‘Online’, com a qual vou viajar por todo o Brasil. Nela, eu falo sobre esse nosso dia-a-dia corrido, no qual fazemos muita coisa e não damos conta de tudo, mas sempre temos que estar conectados e online para que as coisas dêem certo. Hoje, estamos mergulhados neste universo da internet. Escolhemos aquilo que vamos fazer, vestir ou com quem vamos sair, fazemos compras online, pagamos conta. Eu, por exemplo, já fiz até terapia por Skype, porque não tive tempo de encontrar com a psicanalista. A internet passou a estar muito presente em nossas vidas e o espetáculo vai falar sobre essa era da conectividade. Então já tenho estes dois projetos grandes para o ano que vem e nem dá tempo para encaixar outra coisa. [risos]

 

 

 

 

Como é trabalhar com tantos veículos e formatos (programas de TV, filmes, seriados e teatro) e adaptar seu humor para cada um?

 

 

As coisas na minha vida aconteceram com muita calma. Eu não fui encontrado em algum lugar e convidado para fazer o programa e, de repente, tive que me adaptar a uma nova realidade de um dia para o outro. Comecei a escrever na cozinha da minha casa, lá em Niterói, sozinho o texto de ‘Minha Mãe é uma Peça’ com uma hora e dez de duração. Eu escrevia e lia para o Fil - que é meu amigo há 20 anos, mas não escreveu no teatro comigo -, para a empregada, para minha mãe, para um amigo... Eu ia para a casa do Marquinhos Majella, lá em Copacabana, sentava em uma cadeira e ele no sofá, e lia a peça para ele. Fui fazendo tudo bem devagarzinho e testando. Fiz algumas participações em programas e foi quando aprendi a ter uma intimidade maior com a câmera e a luz. Depois, fiquei um ano no ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’, quando eu podia totalmente testar, errar e acertar. Era um horário infantil e não tem o peso de fazer uma novela das oito, por exemplo. Depois chegou o 220v, trazendo os personagens que fui criando com o Fil. Então eu acho que tive tempo e calma para descobrir as coisas aos pouquinhos. Por isso, acredito que consiga fazer direitinho aquilo que faço no teatro, no cinema e na TV. Claro que quando você pega um personagem da TV e coloca no cinema é diferente. Por exemplo: a Dona Hermínia - que tive que transformar em cinema, TV, teatro, livro - foi necessário adaptar o tom da voz. Mas eu tive tempo para amadurecer isso. Do primeiro ‘Minha Mãe é uma Peça’ para o segundo, vocês já vão ver uma outra temperatura no personagem. Eu ainda estou descobrindo e vou continuar assim para o resto da vida. Acho que a gente nunca está pronto e morre aprendendo.

 

 

 

 

 

“Vai que cola” trouxe a relação público x palco do teatro para a TV. Como é gravar neste formato e ter a possibilidade de rir dos erros e eles mesmosserem parte da narrativa?

 

 

O ‘Vai Que Cola’ foi um grande desafio pra gente. Tínhamos que fazer TV e teatro ao mesmo tempo. Não sabíamos se era para interpretar para a plateia que estava ali sentada ou para as câmeras. Acabou sendo um exercício para tentar descobrir o tom, dentro daquela linha tênue entre fazer exagerado para a TV ou menor para o estúdio. Foi como um teste, mas o programa encontrou um lugar legal.

 

 

Essa gargalhada que a gente dá, na verdade estamos rindo de nós mesmos. Acontece naturalmente. Tínhamos a possibilidade de parar a cena, voltar e continuar, mas a direção decidiu incluir isso no programa. Era tão divertido o momento em que a gente errava mesmo - sem fingir - que tornou tudo legal. Eu sou mega satisfeito com este programa e orgulhoso por fazer parte deste elenco. Foi tudo meio que elaborado e construído junto comigo, em uma troca com o Christian Machado, que é o diretor artístico do canal. Estou nele há quatro anos e eu amo o ‘Vai que cola’. Ano que vem, se der tempo, vou fazer novamente. Estou com um programa novo e acaba sendo natural sair de um para ir para outro. Infelizmente, não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, mas amo tudo o que faço.

 

 


 

 

Como você enxerga o cenário geral da comédia brasileira atual?

 

 

Temos uma nova geração de comediantes muito bacana. Tata Werneck, Fábio Porchat, Marcelo Adnet, Samantha Schmütz, Marcos Veras, Marquinhos Majella, Luis Lobianco, Rafael Infante, Letícia Lima, Júlia Rabelo, Ingrid Gruimarães, Mônica Martelli, Lolô [Heloísa Périssé]... Se bem que a Ingrid e a Lolô são de outra geração, que é muito próxima – para não parecer que elas são velhas, pois realmente não são [risos]. Elas começaram muito jovens na ‘Escolhinha do Professor Raimundo’ e ‘Sob Nova Direção’, que são programas de dez anos atrás. Os outros nomes são mais de agora. Mas a gente se mistura e é todo mundo junto. Acabei de fazer uma participação no filme da Ingrid, assim como ela fez no meu. A Lolô vem aqui em casa direto e eu sou padrinho do filho dela. Todo mundo é amigo e irmão. Mas eu não tenho muita propriedade para falar sobre o cenário atual da comédia e a transformação. Eu digo que eu gosto daquilo que estou assistindo. Eu gosto dos programas do ‘Vai Que Cola’, do ‘Entre Tapas e Beijos’, me divirto quando consigo ver os programas do Adnet, do Porchat, da Lolô e o ‘Chapa Quente’. Acho que tem tanta coisa legal. No cinema também, agora com o ‘To Rica’, da Samantha, por exemplo. Os filmes do Hassum, do Marcius Melhem... Nossa, acho que tem tanta gente legal e sou muito feliz de fazer parte desta geração. Mas a que veio antes também é muito foda, como a Regina Casé, Fernanda Torres, Diogo Vilella, Luis Fernando Guimarães, Luis Cardoso, Miguel Falabella e Marília Pêra. Temos tantos comediantes legais e todos são inspiração para mim e meus trabalhos. Assisti muito ‘Comédia da vida privada’, ‘TV Pirata’, ‘Vida ao vivo show’... Eu vi tudo isso!

 

 

Tem tanta coisa legal acontecendo. Nossa, não falei na Tata Werneck, imagina... Outro dia a gente ficou aqui em casa conversando até quatro horas da manhã. Eu amo a Tata e acho ela genial. Tem o Majella, que é meu ‘amigo irmão. Todo mundo se conhece, trabalha junto e quem não trabalhou tem vontade. Todos estes são sensacionais! O que funciona mais no humor de hoje é quando você faz aquilo que comunica diretamente com essas situações do dia-a-dia. Eu, por exemplo, gosto muito deste humor e daquele que fala com a família em todas as idades. Na minha opinião, o que dá mais certo é isso. O ‘Minha Mãe é uma Peça’ é um programa de família, assim como o ‘Hiperativo’, que era uma conversa gostosa com o público. O ‘220v’ também era um espetáculo para todas as idades, divertido e com muita crítica. Agora, vem o ‘Online’ que fala sobre a era que vivemos. Eu tinha a possibilidade de fazer uma comédia do Moliere de 1920. Mas gosto de lidar com o atual e acho que funciona levar para a arte aquilo que vivemos hoje.

 

 

 

 

Qual o segredo para fazer as pessoas sorrirem e qual a importância do humor para a sociedade?

 

 

O segredo é a gente rir junto. Eu acho que quando estamos leves, com astral pra cima e ter essa vontade de fazer o outro sorrir já é meio caminho andado. Mas a importância do humor é fazer rir e pensar, né? O humor também é um gênero que permite você dizer coisas difíceis. Ele também tem esse lado de facilitar o acesso às pessoas. É isso: o humor tem drama e o drama pode ter humor. Os gêneros se misturam e fazem as pessoas sorrirem e transformam um pouco a sociedade.

 

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